Happy New Year!

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Cheira-me que está aí alguém.... então, não cumprimentas?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"As Memórias do Gil"


Na matilha, o Quixote era o líder. Avançava sempre destemido perante o perigo, normalmente irreal. Quando o perigo era iminente ninguém mais o via, de súbito era tomado por uma enxaqueca horrível. Algo semelhante àquelas cadelas cheias de laços e tótós, que andam sempre ao colo. Quando nos lançam olhares convidativos e lambem os lábios a provocar, mas depois, na aproximação temos que ouvir os insultos e os olhares de desdém das tias. Sim, porque cão de rico, não tem dona, tem tia. Vencido o obstáculo da tia, levamos sempre com as dores de cabeça delas.

Mas cada um tinha o seu papel: o bobo da corte; o mais veloz roubava nas horas de ponta; o inteligente - que era eu, - delineava estratégias. O Pacho e o Quixote pelo tamanho apareciam em primeiro lugar em caso de intrusão abusiva, dizia assim o letrado do grupo; o Jurisprudêncio.
Nós todos em coro ladrávamos com variações ritmadas para parecemos mais e espantar os curiosos. Quando descobertos, dois saíam na madrugada seguinte para encontrar nova morada, porque aquela corria demasiados perigos. Até escolher casa definitiva para nos albergar, existiam turnos de vigia. Tivemos pena de sair da casa de praia, tinha tudo à mão e boas acessibilidades, sem caminhos de cabras para nos fazer doer as patas.

Quando conseguimos a proeza de permanecer algum tempo sem mudanças, armazenamos os bens úteis e comida que dividimos democraticamente. No Verão, enterramos para permanecer fresco. No Inverno, era mais fácil de manter.

Partíamos para zonas diversas: bairros chiques, onde a oferta poderia ser maior. Descobrimos que os pobres também desperdiçam demasiado. Os Outros, os mesmos pobres, dividiam connosco os restos dos mal governados.

(Esta peça de teatro tem por objectivo chamar atenção para os direitos dos animais. Pretende ter uma vertente educacional nos públicos e visibilidade para o tema na sociedade. Este é um relato que nos mostra o outro lado do abandono, do mau trato, a vivência possível de quem sofre na pele as consequências desses actos. Apesar de fantasiado e adaptando as suas vivências às formas humanas. O que reproduz não deixa de ser real.... A finalidade primordial desta peça é a solidariedade para com associações zoófilas e campanhas de sensibilização/esterilização. )


1 comentário:

Anónimo disse...

💚🐕