Happy New Year!

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Cheira-me que está aí alguém.... então, não cumprimentas?

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Carta da sobrinha da Mizi

Escrevo a pensar que alguém um dia me lerá. Tenho a certeza que aparecerá a pessoa certa, a quem esta informação será útil: para fazer justiça, por curiosidade, para conhecer a verdadeira história, por nada. Escrevo-te esta carta,porque aqui já ninguém quer saber do que uma velha, que julgam louca, tem para contar.
Pedi hoje para me levarem a ver a casa pela última vez. Não sei em que dia estou, mas deve ser primavera porque vejo da janela o jardim da casa em frente todo a florescer. Decorre o ano de 1998.
A desolação toma conta de mim, quando ao visitar o interior da casa reparo nas adaptações que realizaram para o Lar de Terceira Idade que ali está albergado.
Um elevador ferrugento tomou conta da sala do piano, no primeiro andar fez desaparecer o corrimão entrançado em mogno. Os tectos com frescos foram substituídos pela vulgar tinta branca, agora já coçada. A tinta de óleo que embelezava o espaço nas suas cores rosa e pastel perderam a vida, o papel de parede em relevo que revestia as salas onde posavam os quadros de Sequeira, não existem.
Agora, a casa não tem alma. As empregadas circulam de um lado para o outro nas suas fardas, enquanto aqueles vultos sentados dormitam sem nada para fazer. Volto para o meu mundo, porque quero escrever.

Não sabe absolutamente nada. Talvez até porque não lhe interesse pensar nisso.
Sigo-lhe os passos sem que dê conta. Ao longe. Atenta. Desperto para aquele vulto abandonado à sua sorte, na intempérie ergue -se a torre, sombria, só. Já não tem a utilidade e beleza doutros tempos, era majestosa.
Quando se descia pela calçada em terra batida, a charrete tremelicava, as cortinas de cetim vermelho carmim corriam na calha de um lado para o outro, tilintando. Ao longe, no caminho que dava acesso à quinta, ela aparecia soberba, imponente. Era visível da entrada. Existia um muro baixinho, que separava o carreiro dos campos agrícolas.
Depois, passávamos os obeliscos e ai era outro mundo.Era criança e tudo me encantava. Na altura a minha tia sentia uma estranha solidão. D Francisco Noronha tinha morrido há 2 meses, eu ia com a minha mãe, já viúva, consolar a titia Mizi. As irmãs juntas na mesma sorte, dizia minha mãe.
Passávamos aquele portal majestoso, a charrete cortava à esquerda e deixava-nos ao pé do lago.
Eu saía vaidosa, por ter uma tia que morava naquele palacete.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei. São crónicas?

Anónimo disse...

DEIXA-ME DIZER TE QUE ESCREVES MUITO BEM. FORÇA. VOU ADICIONAR-TE TB GOSTO DE ESCREVER