Happy New Year!

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Cheira-me que está aí alguém.... então, não cumprimentas?

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O prejuízo na romaria

Coube- lhe por isso, a casa, a quinta e uma terça. Todos os herdeiros ficaram bem, era família de posses. Ao resto da prole, cada um recebeu "dezasseis conto em terras, isto é, quase quatro mil libras em ouro".
Em pequena percorria a casa como se tratasse de um palácio. Com os filhos dos caseiros, pobres nos seus trajos, assemelhava-me a eles no comportamento. Nós também éramos de origem muito humilde, mas a mãe tinha soberba de ascensão social, julgando que por minha tia ser companheira de D. Francisco lhe dava algum estatuto.
A expressão de escândalo assoma ao seu rosto, quando me aproximava depois de uma tarde toda a brincar com os gaiatos, como lhes chamava.
- Como é que a menina foi-me capaz de fazer uma coisa destas?
- O que foi que fiz, mãezinha? perguntava com a inocência "de quem não deve e não teme".
A tia Mizi era condescendente
- São crianças. Entre eles não há ricos nem pobres, dizia.
- A mana já viu. Toda suja, como vou agora para a rua com a Eduardinha, vão pensar que é filha de uma lacaia qualquer.
- Eu empresto um xaile.
Eu tinha rebolado no chão, percorrido a mata a brincar aos polícias e ladrões, molhado os pés e pernas no lago, enquanto os outros tomavam um vigoroso banho, subido às árvores, jogado à lata velha. O resultado era o meu lustroso vestido amarfanhado, colorido de castanho terra com umas pinceladas de cor negra ao longo de toda a peça, as rendas brancas que enfeitavam a bainha da saia sobressaia-lhe diversos cortes, mas todos simétricos. Na verdade, na altura, não achei que estivesse mal. Mas aí de mim que pronunciasse algo em minha defesa. Naquele tempo não se respondia aos pais. Os olhos arregalados da mãe e o sinal de negativo que fazia com a cabeça, chegaram para ficar de castigo sem ir ver a tia. Foi a última vez que lá fui.
Recordo cada passo com eterna saudade. Passados 6 meses, Mizi entregava a casa à Misericórdia, com era vontade expressa de D. Francisco, e nunca mais aquela casa foi igual. Esse ano, 1904, foi o melhor da minha vida, pela liberdade que sentia ao percorrer aquela enorme distância, como brincava feliz, como a vida era tão fácil. A idade tolhe-nos.
Nos momentos de maior ânimo, as manas sentavam-se na salinha do Pelicano, a beberem o seu chá acompanhado com os chiques biscoitos ingleses. A mãe deliciava-se com as histórias que a tia recontava sobre D. António da Prelada, irmão de D. Francisco. Rapaz vivo, folgazão, que gostava de se meter em apuros e desafiar a vida. Quando na romaria do senhor de Matosinhos se abeirava um par de namorados, afoito, pregava um beijo na moça para provocar o namorado que lhe vinha pedir contas. O barulho começava, arremessava-se os jovens em luta no jogo do pau, em que os paus zuniam no ar em pancadas secas e compassadas entre o ataque e a defesa. Defendia-se a honra da donzela com um duelo de cavalheiros. Outras vezes, D. António galopava velozmente pelo recinto da romaria até as tendas de loiças de barro, avançava como se estivesse o animal assustado, fazia tudo em cacos. As mulheres alvoraçadas com o prejuízo, gritavam, insultavam o fidalgo, corriam atrás dele com as mãos no lenço preto que lhes cobria a cabeça. Juntava-se gente que fala ao desbarato, logo após a confusão, regressava o D. António, galhofeiro, com um sorriso nos lábios. Perguntava o custo da despesa e pagava generosamente, partia montado no seu cavalo.

5 comentários:

Anónimo disse...

Achei espectacular este Blog. Continua! Penso que deverás ter um pouco mais de atenção aos erros de escrita (vê-se que é distração). Quando dizes quarto mil libras de ouro, devia ser QUATRO mil libras de ouro...
Mais à frente escreves trata-se quando querias dizer TRATASSE...

Anónimo disse...

Obrigada!

Anónimo disse...

Elsa,
Estás cada vez melhor....Parabéns, pelo primeiro contrato à vista. Espero que a partir daqui nunca pares.

Nuno

Anónimo disse...

És bonita, MUITO INTELIGENTE, criativa, intuitiva, talentosa, muiiiiiiiiiiiiiiiitooooooooooooo fixe. Que queres mais? O resto vem por acréscimo. Tenho orgulho em te ter como amiga.
Parabéns, Elsa!

Vemos nos no Wall Street...

Anónimo disse...

Tudo que tenho para te dizer, já te disse... ontem mesmo, lembra?
Bom! Certa de que o teu sucesso chegará o mais breve que pensa, estarei aqui do teu lado para presenciar este momento tão importante. Importante para você e para todos aqueles que estão contigo. Beijo grande, de quem muito te admira, tua amiga de sempre.
Nilce