Happy New Year!

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Cheira-me que está aí alguém.... então, não cumprimentas?

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Just look around....


- Sim?! Uma cara avermelhada espreita por uma nesga.
- Nada. Estou só a ver. Posso entrar?
- Para quê?
- Para conhecer. Gostava de ver a arquitectura. Sou arquitecta, para mim tem interesse profissional.
- Que arquitectura? Isto está tudo a cair.
- Pois está infelizmente, mas interessa-me na mesma. Posso?
- Para quê?
- Já lhe respondi. Para ver a arquitectura. Isto foi desenhado por Nasoni.
- Se desenhou, desenhou muito mal, está tudo a cair. Estas coisas hoje em dia não duram nada.
- Ah! Nem acredito. Não sabe o que estar a dizer...
- De quê? De que está tudo a cair? Então, não vê? – Olha em direcção à casa – Até se vê por fora. E ainda duvida...
- O senhor não percebe nada. Nasoni é um mestre da arquitectura. Ele construiu isto há 200 anos. Como o senhor quer que um edifício com 200 anos, sem obras, não esteja em ruínas? Claro que tem que estar, ninguém cuida.
- Eu cuido. Mas só dos cães. Até podia ir indo fazendo uns trabalhinhos, mas o Sr. provedor tem que me pagar mais.
- Posso entrar ou não?
- Para quê?
- O senhor cansa-me.
- Porque?
- Vamos ao que interessa e não mude de assunto. Posso ver a casa por dentro; sim ou não?
- Não.
- Porque não?
- Porque não tem nada que ver. Está tudo a cair.
- Não se interesse se está tudo a cair ou não. Eu quero ver na mesma. Posso?
-Para quê? Se está tudo a cair? Vê por fora. Dá uma voltinha, descansadinha, por esses terrenos baldios e está aí o tempo que quiser até à noitinha. Para ver as coisas a cair, vê melhor por fora do que cá dentro. Acredite no que lhe digo, Até pode tirar fotografias, que não tem mal nenhum.
-Mas por fora eu já vi. Quero ver por dentro. Posso?
- Por dentro é igual a por fora, tem exactamente o mesmo feitio, só que vê ao invés.
- Desisto. Vou falar com o provedor. Só mais uma coisa, porque não fecha as portas da casa?
- Para quê?
- Por várias razões. Entre as quais, para ninguém assaltar a casa.
- Para levar o quê?
- Para não entrar chuva e vento que prejudica e degrada mais a casa. As madeiras, algumas ainda devem ser originais.
- Isto está tudo partido. Nas janelas do primeiro andar, não há vidro direito, tanto faz a chuva entrar por cima ou por baixo. Olha a treta!
Olho para cima, e é verdade. A madeira das janelas está quase irremediavelmente destruída. O vidro não existe. As portadas interiores caem aos pedaços e algumas estão abertas, um convite a degradação rápida e impiedosa.
- Mas com as portas fechadas protege, pelo menos, o rés-do-chão. A capela...
- Na capela é onde dorme os bichos, mesmo ao pé do altar que é mais abrigado.
- Concordo que tenham de estar abrigados. Mas não falta espaço neste quintal da frente, construíam uns canis quentes, cobertos e resguardados para os cães e andavam soltos.
- Para quê? Se têm espaço lá dentro de sobra. Maior que um canil, têm um palácio por conta deles. Olhe é maior que a minha casa. Estão como querem. Vou me embora que tenho trabalhinho a fazer. Adeusinho!

2 comentários:

Anónimo disse...

Com esta belíssima descrição, apetece estar 'escondida' por ali perto e aproveitar a distração do 'caseiro', esgueirar-me por uma das muitas portas irremediavelmente abertas, e observar todas as maravilhas arquitectónicas (que mesmo apesar da degradação)nos esperam e transportam para uma época aurea e viva, impregnada da colónia de Violetas de Parma das senhoras e o 'restolhar' das saias de seda, arrastadas pelos soalhos encerados... e o entusiasmo cresce para saber o desenrolar desta estória 'apaixonante'...
Continua e inspira-nos...
Beijos

Anónimo disse...

Manda outro....Este está lido e relido.
Beijos
Nuno