Happy New Year!

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Cheira-me que está aí alguém.... então, não cumprimentas?

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Na casa


Uma luz ténue espreita pela clarabóia partida, os raios infiltram-se pelas nesgas; entre vidraças quebradas, portadas destruídas, buracos na parede e tectos caídos.
Um hall revestido a azulejo azul e branco mal conservado, a grande janela e porta para o exterior de onde se avistava outrora o primaveril jardim, em estilo romântico com bancos em pedra, muitos amores por lá passaram juntos e envolvidos no cheiro que imanava das tílias. Agora sim, consigo identificar onde estou, onde sempre quis entrar. Este espaço taciturno, destruído é a casa do tio Francisco. É a casa do tio Francisco, grito com toda a força.


Não faço a minha ideia como vim aqui parar. Estou sozinha, julgo, só eu e o luar que pelas frinchas me acompanha.
Estou no rés-do-chão da casa. Salas, saletas, átrios, corredores; as divisões comunicam entre si, sempre com uma intenção habilmente pensada pelo mestre Nasoni.
Encontro-me na antiga salinha de entrada, contígua à capela e à ante sala onde o capelão vestia os paramentos antes da missa. Trespasso às teias de aranha da entrada em meio arco e com colunas laterais para a área onde coabita a velha escadaria, majestosa nos seus tempos, com a porta principal da casa que se abre, quando não estava entaipada, para o frondoso jardim já na zona lateral.
Preguiçosa, esgueiro-me pelo ponto mais elevado, para não ter que me baixar fugindo daquelas intermináveis teias que se colam a quem passa. Quase se tornam imperceptíveis, de modo, que não é de estranhar levar meia dúzia delas comigo.
Do lado esquerdo, ergue-se a escadaria dividida em dois lanços laterais que se unem no corpo central. Pode não ser preciosidade arquitectónica, mas tem uma linha sóbria e elegante. Teve, noutras épocas quando por cá passaram os convivas do tio, amigos de tertúlia, companheiros de ideologias politica e partidárias. Agora, nesta casa de aspecto tosco, quase tudo se encontra numa posição oblíqua a minha verticalidade. Variadas vezes sou forçada a acompanhar o movimento das coisas para perceber o que é. Aquela pistola apontada em minha direcção, tão ameaçadora, suspensa no sopé das escadas, não é mais do que um pedaço do balaústre pendurado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Escreves muito bem, mas és uma peste com um feitio danado. Peste!

Anónimo disse...

Olá.
Raul Menezes.